Jehanie, a protagonista de A Insígnia de Claymor,
tem muitos defeitos. É mimada, completamente excêntrica e focada no seu próprio
mundo. Ao mesmo tempo, numa época em que mulheres eram considerados objetos insignificantes,
foi educada e amada com fervor pelos dois homens da sua vida: o pai e o irmão.
Também foi a musa adorada do padre Adam, que a manteve sempre como uma pequena
joia.
Contudo, a personagem que tinha tudo para atrair
antipatia, acaba tendo efeito oposto. Muitos pensam que era pelas tiradas
geniais, pelo feminismo velado, ou simplesmente pelo lado cômico. Todavia, eu
acredito que foi por Phill.
Phill foi um personagem da grandiosidade e importância
de Junior (de Rendição). Não teve uma única fala em todas as páginas do
livro, mas sua presença era mais intensa e poderosa que a da maioria dos
personagens.
Phill era um porco.
Sim, um porco.
A Lady Jehanie tinha como animal de estimação um
simples mamífero que a maioria diria que servia apenas para alimento.
A história de Phill e Jehanie começa na infância. Por
causa da credulidade do povo, um porco que nasceu aleijado começou a ser
considerado maldito, com demônios. Desejoso de tirar as fábulas dos arredores
de Claymor, Albert, pai de Jehanie, deixa a filha ir conhecer o animal. A
amizade que nasce entre a menina e o porco é automática, mas após algum tempo,
o inevitável acontece:
“Naquela
manhã em especial, a manhã da Páscoa, ela acordou cedo e foi até o chiqueiro
para mostrar a Phill os doces que havia ganhado do pai. Entretanto, ao se aproximar
do lugar, não ouviu o habitual grunhir dele, e sim vozes de pessoas. Eram os servos
de seu pai!
Quieta,
ela se aproximou sem ser notada, e então viu, entre lágrimas, o corpo inerte do
porco Phill, deitado sobre uma mesa de madeira, morto.
Eles
haviam matado seu melhor amigo! E se divertiam arrancando-lhe as tripas!
Berrando
como uma Lady jamais poderia, a menina atirou-se sobre o corpo do animal e
chorou escandalosamente. As pessoas a encaravam sem saber como reagir, já que a
criança que atrapalhava o momento de limpeza do corpo do bicho era a filha do
senhor das terras.”
Contudo, assim que vê a irmã em desespero, Alexei
decide salvar a todos os demais porcos de Claymor. Em pouco tempo, os animais
se tornam de estimação e a carne de porco é banida das mesas do feudo.
Mais para frente, assim que Jehanie se perde da família,
ela salva da morte outro porco, a quem chama de Phill para homenagear o antigo
amigo morto pela gula.
O carinho que surge é tocante. E é ali que a maioria
dos leitores vê o quanto a superficialidade anda longe da senhora de Claymor.
Jehanie é verdadeiramente defeituosa, mas também vê a beleza no que o resto da
humanidade não enxerga.
A Insígnia de Claymor têm muitas histórias de amor,
amizade e também de ódio. Relacionamentos são formados e destruídos durante o
relato da excêntrica família. Mas, de todas as histórias contadas, uma das que
mais gosto é realmente de Jehanie e Phill.
O amor de uma pessoa para um animal é um dos mais
honestos e verdadeiros. Tenho orgulho dessa amizade ter sido narrada nas
páginas brancas do livro.
E obrigada a todos que gostaram, igualmente. Abaixo
um dos desenhos de uma leitora (Vivian) homenageando Phill.
Que viva para sempre, e longe das panelas, nosso
amado porquinho.
2 comentários:
Esse é um dos livros que vou comprar em breve. Adorei a postagem.
Tenho certeza que vai amar... esse "eu agarantiu"
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