terça-feira, 5 de março de 2019

Minhas Três Primaveras - R. Christiny

INSPIRADO EM UMA HISTÓRIA REAL
CONTÉM CENAS FORTES
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS
CONTÉM LINGUAJAR INAPROPRIADO
"Alguns sorrisos são muito mais do que simples curvas. Ás vezes eles também podem proferir grandes ameaças."

Meu nome é Luz, mas há um paradoxo em meu nome, se você observar mais de perto, verá que a minha vida é uma angustiante escuridão. As minhas escolhas não foram as mais sábias e os meus amores foram os mais errados.
Eu sempre acreditei que a morte viria de uma única vez, paralisando o coração e impedindo a respiração. Pensei que a dor fosse súbita e implacável, mas isso é uma terrível mentira. A morte pode dar um golpe fatal ou pode corroer seu corpo e sua mente, te lançando no abismo da loucura antes mesmo que você possa dar seu último suspiro.
Minha vida foi marcada por três primaveras e sei que antes de eu terminar de contar minha história, você já estará se questionando se ela é de fato real e irá querer saber como pude suportar tanta dor por todos esses anos, mas a verdade é que eu não suportei. Eu já estou morta, e foi em 1983 que eu comecei a morrer.

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O QUE A JOSY ACHOU?
Eu já conhecia o trabalho da autora por conta da obra "E se ela soubesse?" que me deixou em total estado de contemplação pela originalidade e estrutura de texto.

Então, quando saiu "Minhas Três Primaveras" estava ansiosa para ler. Acontece que quando se é escritor - e se vive disso - a gente acaba por não ter tempo de ler em meio a tanto trabalho de escrever e pesquisar. Minha vontade de conhecer o trabalho dela foi deixado de lado até que acabei ganhando feriadão prolongado e pude mergulhar nas suas linhas.

Vou ser bem franca, porque eu não sou de nenhuma panela e não tenho que puxar o saco de ninguém. Para mim, Renata é disparado uma das melhores escritoras do país e não está dentro das listas de mais vendidos pelo motivo óbvio: ela foge dos clichês e é material de bestseller internacional.

De todos os autores que despontaram nos últimos anos - eu me incluo nisso - não vejo mais ninguém com a capacidade de fazer sucesso lá fora, porque sua escrita é extremamente bem encaminhada, fora dos padrões, e tem uma linguagem universal, humana, que atinge qualquer um que lê.

Quando eu comecei a ler esse livro, fui avisada que odiaria Luz, a protagonista, o que não aconteceu de imediato. A história dela é muito parecida com a de muitas mulheres da década de 70 e 80, incluindo minha mãe (e pra quem não sabe, minha mãe conseguiu se livrar do marido abusador após aguardá-lo chegar em casa escondida com um pé de cabra. O cara pôs o pé na porta, e ela meteu o pé-de-cabra na cabeça dele. Ali ela conseguiu o divórcio e se tornou a escória da cidade e da família, porque virou mulher divorciada numa cidade de pouco mais de 5 mil habitantes no interior do RS em pleno início da década de 70). 

Mas é assim, gente. Naquela época, mais que em qualquer outra, era comum a mulher ser uma espécie de propriedade obediente. Abro um parênteses para a construção de Enrico, o antagonista da primeira fase. Renata claramente estudou o personagem. Um abusador não surge do nada, ele vem de uma história de abusos, e isso foi destacado no texto da Renata.

Já no decorrer do livro, percebemos Luz tentando reconstruir a vida ao lado de Leôncio, um médico dedicado, que acabava tendo vícios - algo comum, tenho amigos médicos e sei que o estresse deles vai para as alturas por conta do trabalho - mas que se mostrou homem de ajudá-la e ampará-la em alguns momentos.

Eu não sou adepta de que uma pessoa pode mudar a outra, isso, na vida real. Acredito que todos já tem seu caráter e que as situações apenas destacam isso, mas vejo que Luz mudou Leôncio para o mal.

Ele era a pessoa mais racional do livro, mas ela foi infantil tantas vezes, que acabou transtornando-o deveras. Se o pai de Eurico o transformou num monstro, foi Luz que fez isso com Leôncio.

Por ex: na metade do livro eles discutem e ela vai embora. Ele a procura e a acha num hotel com outro homem. Ela não o traiu, mas se recusa a responder isso para ele, fazendo com que ele acabasse por odiar o próprio filho, já que ela nunca deixa a entender se a criança é mesmo dele.

O motivo de tudo: ela fica ofendida por ele ter questionado se ela dormiu com outro homem.

Veja bem: a mulher saí de casa e ele a encontra num hotel com outro homem. Quem não questionaria isso?

A própria Luz parece se esquecer que ela PENSAVA SIM EM TRAI-LO com o homem. Não o fez porque esse homem não a quis. Uma mulher madura, se é vista num hotel com outro homem e não deve nada, explica-se para seu marido.

Tirando a parte de Eurico, acredito que a maior parte das dores de Luz foi provocada por ela mesma.  

E então chegamos a terceira primavera, quando ela se auto destrói pelo que podemos considerar o mocinho da obra. Nesse momento ela esquece que tem um filho para criar, filho pelo qual lutou tanto.

É difícil simpatizar com Luz quando ela é realmente burra em diversos momentos da história. Talvez tenha sido a intenção da Renata, que nós acabássemos nos aproximando mais dos antagonistas (mesmo eles cometendo barbaridades), mas mesmo assim é um livro marcante, que eu recomendo sem medo.

Eu não chorei em nenhuma cena (disseram-me para preparar os lencinhos), mas fiquei com ódio mortal na maior parte do livro. 

É uma obra bem realista. Renata não tem medo de ser crua, e o faz com competência.

 

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

OPINIÃO - Inside - A sujeira do mundo literário

Inside é um livro sobre relatos de uma escritora que desistiu.
Depois de descobrir que o mercado literário não passava de uma mentira, Coraline Dalto Dutra decidiu contar de forma detalhada todas as coisas ruins que lhe aconteceram e sobre toda a sujeira por trás dos bastidores das publicações. Em poucas páginas ela nos fala sobre como funciona o mercado literário e nos conta sobre todas as editoras desonestas que passaram por sua vida e todas as pessoas que a enganaram e que continuam enganando outros autores por aí.
Se você faz parte desse maravilhoso universo das letras, cuidado, seu nome pode estar escondido em algum capítulo.


IMPORTANTE - ESSE TEXTO NÃO É UMA RESENHA OU ANÁLISE. É UMA OPINIÃO COM EXPERIENCIA PROPRIA BASEADA EM CIMA DO EXCELENTE LIVRO ACIMA.

Ahhhh céus, quando vi esse livro num grupo literário, soube na hora que precisava lê-lo. Talvez porque eu esteja no ramo, talvez porque eu tenha passado por quase tudo que a protagonista passou, enfim, eu sabia que era necessário, e então corri atrás dele.
Se você ainda não leu, baixe aqui.

A protagonista da obra narra suas desventuras no mundo literário e, como já diz a sinopse, ela desistiu dele. Acho que a diferença entre nós (eu que não desisti), já se explica no primeiro capítulo:

"O que minha geração não entende, e que só agora consegui entender, é: nós não precisamos gostar do nosso trabalho, só precisamos fazê-lo"
 
De fato, acho que quem se mantêm por amor está fadado a desistência. Eu me mantenho porque é meu trabalho. E não, não é todos os dias que quero fazê-lo. Mas, me forço a cumprir as metas diárias, não importando o custo.
Eu só preciso fazer, e faço.
Coraline, a protagonista, já pensava mais com os sentimentos, ela mesmo admite que via a profissão com romantismo. 
No meu caso, não existe romantismo nenhum nos dedos com LER, sangrando nas juntas, no desgaste psicólogico, no estresse da revisão, nas porras das críticas sem fundamento, na vontade de escrever algo mas saber que aquilo é sem futuro, e entender que preciso escrever o inverso porque vende e eu pago meus boletos assim.

Ah, Josi, que frieza...

Pois é gente. É por isso que tô nessa há vinte anos. E eu já passei os meus. Até 2015 eu era a pessoa indicada pela agência nacional da AIDS, mas que não fazia R$ 20,00 reais por mês em vendas de livros. Nessa profissão, ou você é frio, ou ela te engole.
Fora o coleguismo... meu Deus...
Tem tanta gente preparado pra te dar a facada nas costas que seus olhos passam a andar pelo lado traseiro. A autora, aliás, faz uma analise sobre os tipos de autores nacionais e eu gargalhei com ela, porque definiu tudo exatamente.
Eu poderia ficar horas aqui narrando tudo que aconteceu, mas vou me centrar na ideia do livro de Camila: Literatura é pra quem tem estômago. O mercado literário é um show de falsidade. O ego domina o meio.

Outro ponto de destaque é as editoras safadas. Ah, cheguei a rir das armadilhas que a autora caiu. Não vou negar. Já passei os meus perrengues também, especialmente em eventos. Certa vez paguei 900,00 reais para estar num stand, levei os livros numa mala, e a editora não tinha nenhum trabalho além de me oferecer a mesa. No final de tudo, demorei um tempo pra receber o valor das vendas e para piorar, soube que a editora (quando soube q eu iria com outra no evento do ano seguinte) disse que eu desprezei quem deu uma chance no ano anterior (chance? Eu paguei quase mil paus por meia hora numa mesa!)

Outra coisa que, fazendo um parêntese comigo, eu senti muita diferença entre mim e a autora é que, talvez, pela falta de uma família estruturada, um pai durante minha vida, eu realmente me tornei casca grossa, e faço das perseguições um modelo de divulgação.
A autora em questão claramente se sentiu abalada com isso. Ela até chorou quando recebeu a primeira cantada literária de um colega. Já recebi até fotos de pinto de colegas kkkk Mas, ponho banca, faço cara feia, chego junto, é meio dificil um homem abusador se atrever pra cima de alguém como eu, acostumada aos berros e gritos.

Enfim, li o livro em menos de duas horas. Foi viciante. Comecei a ler as 11 horas da manhã e as 13 horas do mesmo dia (15/01) já estava escrevendo essa opinião.  Leitura obrigatória para autores em início de carreira. Leitura divertida para quem já passou por tudo isso.

Recomendo.