"A minha consciência tem milhares
de vozes,
E cada voz traz-me milhares de
histórias,
E de cada história sou o vilão condenado."
William Shakespeare
Se eu tivesse que
definir o livro Micaela&Maire de Luciane Rangel em apenas uma palavra, ela seria
CULPA.
Sim, culpa.
“Por quê?”, você me
pergunta.
Bom, acredito que foi a maturidade que me deu essa visão...
Conheço a história das
guardiãs de Libra e Gêmeos desde os primórdios, enquanto ela ainda estava sendo
criada. As duas personagens de Guardians, que desde o começo causaram muita
polêmica, foram motivo de olhares feios para o texto de Luciane Rangel várias
vezes.
Micaela e Maire são
gays. Lésbicas. Sapatas. Ou dê a elas a definição que quiser. Afinal, eu já vi as
duas serem chamadas por diversos nomes durante os anos. Mas, saiba que, acima
de tudo, elas são dois seres humanos que se amam, que se respeitam, e que
nasceram para ficarem juntas. Independente da sua visão - liberal ou preconceituosa - esse fato é imutável.
Lembro-me como se fosse
ontem a primeira vez que li uma cena delas. Mauricio – o guardião de Touro –
encantado pela ruiva Maire começa uma tentativa fracassada de flerte, quando é
interrompido pela geminiana, e descobre o envolvimento romântico de ambas.
![]() |
Luciane Rangel |
Nos anos que se
seguiram de acompanhamento de Guardians, eu li diversas vezes alguns leitores
tentando fazer Luciane desistir desse casal. Fracassaram todas as tentativas.
Porque o numero de haters de Mic e Maire era bem inferior as suas Lovers.
Mesmo quem podia torcer
o nariz, acabava tendo que admitir que as duas personagens se amavam tanto que
qualquer chance de não terminarem juntas era ridícula.
E com tanto sucesso,
eu sempre imaginei que Luciane Rangel acabaria escrevendo a história solo
delas. Esse Flashback acontece em “Micaela&Maire” onde vocês podem entender como elas se
conhecem, como descobrem que o destino às uniria – senão ali, anos mais
tarde quando fossem chamadas para serem guardiãs – e também em como o desejo –
e posteriormente o amor – surgiu arrebatador, transformando-as.
Um dos pontos fortes do
livro é a construção dos personagens principais. Mic e Maire são inteiramente
projetadas de uma forma que você consegue visualiza-las enquanto lê. E não
poderia existir personagens mais opostos. Religião, convicções, gostos musicais
e até a maneira de encarar a vida, colocam Micaela e Maire em lados opostos da
existência. Contudo, algo mais forte acaba as aproximando.
Luciane Rangel tem
extremo bom gosto em descrever as cenas mais ousadas (leia-se cenas de carinho). Mas, é após elas que a
gente percebe os motivos de eu começar a resenha falando em culpa. A personagem
Micaela admite que apesar das noites incríveis, os dias são carregados de uma
sensação estranha, beirando ao constrangimento. E a loira mal consegue chamar o
relacionamento delas de namoro.
Aqui sentimos o banho
de realidade enfrentado pela maioria dos casais Gays. Como admitir uma relação
em que – às vezes – por legitima segurança precisa ser mantida em sigilo? E
como evitar o ciúme corrosivo? As duvidas a cerca da própria sexualidade?
O lance familiar também
é trazido à tona. Ao ler a descrição da reação da família de ambas, senti-me
como se estivesse relendo as muitas reações dos familiares dos meus inúmeros
amigos homossexuais:
“Eles
acham que estou doente e que preciso de um psiquiatra para me curar. Minha mãe
foi um pouco mais compreensiva, apesar de deixar claro que não aceita a minha
conduta. Já o meu pai me proibiu de voltar para Madrid. Disse que se eu saísse
de casa, não precisava mais voltar.”
“A
filha que eu amava morreu para mim. Eu prefiro uma filha morta a uma filha...
lésbica!”
Enfim, a obra extra de
Luciane Rangel é uma joia ao público em geral. Um livro carregado de
sentimento, onde a autora se doa de todass formas possíveis.
Josiane Veiga
Amiga e fã da Lucy!