Às vezes eu me pergunto se mais alguém além de mim tem ritual de preparação para escrever algo. Tipo, talvez cantar uma música, ou tamborilar os dedos. Qualquer coisa, muitas vezes nem percebida, mas que faz toda a diferença na hora de criar.
Quando escrevia Rendição, bebia café. Sempre. Cada capítulo do livro era criado com excesso de cafeína. Talvez a razão seja porque eu escrevia a noite, após um dia inteiro de trabalho. No entanto, um dia cheguei em casa, e fui preparar café. Quando percebi que não tinha pó, foi que notei a importância da bebida durante o processo do livro. Naquele dia, não consegui escrever nenhuma linha.
Entretanto, nem só de café se faz um autor. Na “Insígnia de Claymor” (que, se Deus quiser, será lançado ainda esse ano), a base de toda a história era barras de chocolate. Entre uma tortura e outra do poderio católico da época da inquisição, eu devorava o doce e engordava vários quilos. Quando encerrei o livro I, comecei a emagrecer.
Um autor é dotado de esquisitices. As vezes são as manias, e as vezes o dom de viver de tamanha maneira a sua própria história, que acaba perdendo o senso de realidade. Isso me faz indagar-me: qual meu nome mesmo? Josiane ou Audrey (1)?
Nesse momento, estou no meio do capítulo 8 de Redenção, que é a continuação de Rendição. Minha obsessão agora são lenços de papel. Como eu choro durante toda a escrita de cada capítulo, percebi que lenços de pano estavam esfolando meu nariz. Então, abro o berreiro na companhia de lindos e perfumados lencinhos higiênicos.
Antes de chegar em casa, sempre ligo para minha mãe para perguntar como está meu estoque de lenços. Ela da uma olhada na minha escrivaninha do quarto, e diz quantos mais ou menos tem. Dependendo da resposta, passo na farmácia antes de chegar em casa.
Essas atitudes completamente transtornadas são compartilhadas por outros autores. Nas conversas semanais com minhas colegas de profissão (?), acabo descobrindo que muitas necessitam de música durante a digitação, ou de outras coisas que variam de copos de água a posição de Yoga em cima da cadeira.
Que bicho esquisito essa pessoa chamada autor, não? Já notaste que nenhum é normal? Somos todos repletos de manias e vontades que o mundo racional não pode compreender. Como, por exemplo, explicar a desidratação que tenho ao escrever uma cena triste? Ou o tempo que fico gargalhando ao ler algo engraçado? Não há parâmetros para explicar um autor. No entanto, aparenta que quanto mais estranho seja ele, mais talentoso e incrível seus textos são.
Josiane Veiga
2 comentários:
Exato!
Bicho estranho e particular, cada um no seu universo :D
Eu, por exemplo, detesto silêncio total. Em qualquer situação. Então, ao escrever (que é, digamos, uma das minhas "melhores situações")preciso de música, gente falando, barulho, sim! Muito movimento...
Curioso é que sempre achei isso esquisito. A maioria das pessoas precisam do silêncio para se concentrarem na produção de um testo. Enquanto eu não suporto a quietude total - me esmaga, esmaga a essência e rouba minha poesia...
Talvez esse momento calado seja tão temido para mim, que na hora que ele vem toma todo o espaço.
Ainda escrevo algo sobre.
Abraços!
*texto
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