quarta-feira, 18 de março de 2009

O poder de uma crítica

Por Luciane Rangel

Dispus-me a escrever sobre isso depois de ver (e sentir na pele também) o tanto de críticas destrutivas que rodeiam os escritores de fics. Nós, seres inferiores aos escritores “de verdade”. Por que inferiores? Porque não somos contratados por uma editora, não possuímos uma equipe de revisores gabaritados, não temos o foco da mídia e, o que sempre é importante ressaltar: não ganhamos nem um centavo pelo que fazemos.

Algumas pessoas são cruéis em seus comentários. E a grande maioria desconhece o fato de que todo escritor famoso (até esses já falecidos e eternamente lembrados por suas genialidades) tem/tiveram revisores para seus textos. Não conseguem entender, também, que um escritor é um contador de histórias, alguém que possui o dom das palavras. Mas não tem, necessariamente, que possuir a gramática perfeita. Mesmo porque não existe pessoa nesse mundo que seja perfeita.

Concordo que todo escritor precisa ter domínio de seu idioma. Não dá pra aturar histórias com excesso de erros grotescos de português. Mas existem vários fatores (além do óbvio: somos humanos e temos o direito de cometer erros de vez em quando) que precisam ser levados em consideração.

1º. Na maioria das vezes, nós trabalhamos com prazo. Um autor que respeita o seu público costuma estipular um intervalo aproximado entre as postagens dos capítulos.

2º. Trabalhamos com idéias contínuas. E estas não costumam esperar, estáticas, que a gente as escreva para surgirem novas. Geralmente um escritor, quando está criando, digita o mais rápido que consegue, para que as idéias não lhe “fujam” da mente. E a mente costuma ser muito mais rápida do que os dedos, e isso faz com que às vezes a gente cometa erros de digitação, troque palavras ou as escreva incompletas.

3º Junto ao fato anterior, quando terminamos de escrever, estamos com nossas vistas viciadas Por isso, pouco adianta ler o texto assim que terminar, porque os olhos passarão direto pelos erros (já que a história ainda está fresca na cabeça) e não vão identificá-lo. Isso ocorre com todo mundo que escreve qualquer coisa. Eu, por exemplo, preciso sempre esperar alguns dias para ler novamente o que escrevi. Só assim, consigo fazer uma revisão mais ou menos decente (ou nem tão decente assim, porque, apesar do tempo que passou, a história continua na mente de quem a criou). Só que, muitas vezes, nós não temos o tempo disponível para terminar de escrever e ainda esperar alguns dias para ler de novo e, só então, publicar.

4º Nós não ganhamos a vida escrevendo. O que quer dizer que temos nossos trabalhos e/ou estudos para ocupar nosso tempo e nossa mente. Fora isso, temos famílias, relacionamentos, vida social, problemas pra resolver, contas pra pagar, provas pra fazer, consultas médicas pra marcar, coisas pra comprar... Escrever, para nós, é um hobby. Uma válvula de escape, algo que fazemos porque nos faz bem. Mas nem sempre conseguimos esvaziar completamente a cabeça dos problemas do dia a dia...

E é nessas ocasiões que esquecemos da crase, que confundimos a regra do hífen, que trocamos os porquês, que escrevemos “haver” em vez de “a ver”, “sobre” em vez de “sob”, “mal” em vez de “mau”... E cometemos inúmeros outros errinhos que, sendo sinceros, não interferem na leitura de ninguém. Quem tem o privilégio de contar com um revisor terá esses probleminhas resolvidos. Quem não tem, infelizmente vai postar assim.

Um leitor-amigo que queira te ajudar vai chegar diretamente a você ou escrever-lhe um e-mail para te indicar os erros que você cometeu e te dar sugestões de como melhorar aquilo.

Um crítico-destrutivo (também conhecido como “ser metido a superior que não tem mais o que fazer da vida”) fará um comentário num local público e, sem a menor educação, vai dizer que seu português é uma “merda”, que você escreve mal... E, muitas vezes, será ainda mais cruel nas palavras.

Muitos autores talentosos, que têm tudo para ainda evoluírem muito em seu trabalhos, desistirão diante dessas críticas. Porque elas destroem sua auto-estima. Costumo dizer que uma crítica destrutiva pode matar um escritor promissor. E, infelizmente, já vi isso acontecer.

O português é prática e aprendizado. Está ao alcance de todos. O dom da escrita, ao contrário, não se aprende em livros. Muitas pessoas de português impecável não têm sensibilidade e talento para escreverem uma história (e geralmente, que irônico, são exatamente esses que mais criticam). Já quem tem o talento para a escrita, se levar isso a sério e praticar bastante, sempre buscando se aprimorar, fatalmente irá minimizar seus erros e melhorar sua ortografia. Afinal, o aprendizado de qualquer idioma (inclusive o nosso) se dá por meio da prática da escrita e da leitura.

Eu, por exemplo, sou uma escritora novata e reconheço que cometo muitos erros. Muitos mesmo! Mas sinto-me feliz ao pegar meus primeiros textos e ver o quanto eu errava muito mais do que hoje. Isso me faz perceber que venho evoluindo desde que comecei, e isso é gratificante. Graças a Deus, eu só consegui isso por nunca ter desistido. E isso foi, também, graças aos leitores maravilhosos que tive, e ao fato de sempre ter recebido muito mais críticas construtivas do que destrutivas.

Bem, por hoje, fico por aqui. Espero ter sido clara em minhas idéias.

Beijos a todos!

Lucy.

PS: Seria redundância pedir para que perdoem meus erros de português nesse texto? rs

4 comentários:

Josiane veiga disse...

Ah..eu concordo inteiramente. Só quem escreve pra entender o quão dificil é colocar as palavras no papel...
adorei o artigo amada^^ estas se mostrando uma otima escritora de artigos tambem...^^

Luiz Fernando Teodosio disse...

Um ótimo post, Lucy. E é bem verdade que todos os escritores (sentem) isso na pele. Por exemplo, acredita que eu esqueci de colocar o "sentem" na frase anterior? Comi letras. Odeio quando isso acontece. É realmente uma droga não contar com um revisor, e ler o mesmo texto 2 ou 3 vezes ou até mais para minimizar os erros. O pior é que nem assim parece que dá jeito. Tem sempre uma coisinha errada que não vemos.

Para quem tá começando a escrever, criticas destrutivas é como se fosse jogar uma granada na mente do escritor. Ele olha, sente-se revoltado e manda o crítico pra aquele lugar, ou então fica de boca aberta sendo tomado pouco a pouco por um enorme desestímulo. O resultado é que se acha incapaz de continuar. Pronto! Mais um caso de assassinato de escritor, que poderia ser até promissor.

Pra falar a verdade, teve algumas vezes que recebi uma ou duas que fiquei muito irritado e fiquei socando a parede do banheiro na hora do banho XD. Mas depois de extravasar minha raiva, dei um tempo e voltei a escrever ao ver que algumas pessoas queriam mesmo acompanhar o que escrevia. Acho que até aquele "Que legal! Continua!" serviu pra animar. Resolvi continuar pois sabia que aquilo não era suficiente pra me abalar a ponto de me fazer desistir de um sonho, e olha que eu quero mesmo ser um escritor " de verdade" e lançar um livro.

Algumas semanas eu tava olhando uma história minha feita em 2006 e me impressionei com quantos erros tive de consertar. Acho que mudei mais da metade do texto. Sinal de que evolui um pouco desse período até hoje. Se fui assim antes, se sou assim agora, o que posso ser no futuro?

Por isso é que sigo em frente, não me importando com essas criticas destrutivas, e muito feliz quando recebo um simples comentário de alguém acompanhando o que eu escrevo ou indicando alguns erros para que eu possa melhorar a cada frase que escrevo.

Deh disse...

Lucy! Post perfeito *-*

Gostaria primeiro de fazer uma ressalva!!!

"1º. Na maioria das vezes, nós trabalhamos com prazo. Um autor que respeita o seu público costuma estipular um intervalo aproximado entre as postagens dos capítulos."

MEU DEUS... ISSO FOI UM TAPA NA MINHA CARA!!! Ô.Ô

Mil desculpas por não ter terminado a fic que eu comecei! Nem tinha parado pra pensar nisso Lucy, e vc tem toda a razão!!!

Agora voltando ao texto... está maravilhoso! Acho que a humildade é fundamental em qualquer circunstância!

Acredito sim que cada um tem direito a expressar suas opiniões, mas o seu "direito" termina onde começa o direito do outro!

E o direito ao qual me refiro, é o de ser RESPEITADO!

Muitas vezes recebemos críticas que ultrapassam a barreira da expressão com a agressão! São ofensas e humilhações endereçadas a quem só tinha a intenção de entreter e agradar.

Vamos tomar cuidado com a forma com que falamos e escrevemos. Até porque quem conhece bem a nossa língua sabe que ela é tão maravilhosa que nela existem várias formar de se dizer a mesma coisa.

Por tanto se não gostou, lhe cabe apenas escolher as palavras certas, pois pra bom entendedor, meia palavra basta.

Beijos linda ^^

Snake/// disse...

Oi, Jozy!
Parece até que um amigo invisível ao nosso lado nos indica certos lugares para irmos para nos abastecermos de energias boas e renovadas.
Só estou aqui no seu blog por acaso, um feliz acaso :)
Estava na comuna do orkut "Escrevo fics originais" e encontrei o seu tópico que é a postagem de hoje do seu blog. Li, concordei com cada palavra e vim aqui para conhecer mais das suas ideias. E esta sua postagem, sobre crítica, me chamou muito a atenção.
Eu sou meio fanático por leitores. Sempre que escrevo algo e publico, começo a bombardear meus contatos com propaganda (porque eu escrevo e quero que leiam, senão escreveria um diário, mas isso não dá tesão XD) e eu tenho entrado em várias comunidades sobre literatura para criar tópicos de propaganda. Nessa coisa de querer fazer tudo rápido (porque não dispomos de tanto tempo sobrando e sempre fazemos isso quando não se deve fazer - no trabalho, por exemplo), acabo não prestando atenção em alguns detalhes... enfim, acabei caindo numa comunidade de nome "fc e fantasia - texto e crítica" (ou algo assim), mas a comunidade é pra meter malho no trabalho dos outros, onde os caras analisam cada forma, cada palavra escrita (enxergar o conteúdo passa longe), e um coroa lá, o bambambam, criticou tanto o texto do 1º capítulo da minha original que me senti um merda analfabeto - literalmente! Eu até copiei a crítica dele e joguei no review do site onde publico, pra deixar de registro. Ele foi bastante polido, não usou nenhum termo pejorativo, mas acho que nem precisava. Ele não precisou escrever diretamente que eu sou um merda, porque me senti mesmo que a palavra não estivesse ali explicita.
Aí, pergunto: existe crítica construtiva?
E respondo: Não, não existe.
A crítica sempre será um embate do orgulho de um com o orgulho do outro. Sempre será um jogo arrogante de vaidade. O autor sempre se sentirá ofendido em alguma parte, principalmente em se tratando de autores como nós, que escrevemos apenas por prazer, já que o que paga nossas contas é o suor de nosso rosto em trabalhos nada glamurosos. E a crítica nos ofenderá pelo simples fato de que quem critica não tem a mínima ideia do que foi feito e do que foi deixado de lado para que aquele texto esteja ali publicado. E é aí que ficamos mais ofendidos.
Não falo dos erros de português. Um word da vida já ajuda bastante nessa parte e a maioria dos leitores nem reparam em pequenas coisinhas, desde que elas não atrapalhem a fluidez do texto, e seria de grande ajuda se alguns leitores percebessem esses erros e nos avisasse.
O principal é quando criticam a estória em si, em que se usa nomes "muito difíceis" (como os que eu gosto de usar - detesto nomes simples. Quer o básico? Olha pra vida, ela é bem básica) ou porque você não usa os termos de acordo, deve seguir padrões e regras.
Seguir regras e padrões? Até sigo, desde que me paguem pra isso, porque enquanto eu estiver fazendo a coisa de graça, vai ser no esculaxo da minha imaginação que, por acaso, agrada muito aos leitores, que são - e deveriam sempre ser - a peça mais importante na vida de um autor.
Deculpe se tá meio doido isso aqui...
Bjus!