terça-feira, 15 de janeiro de 2019

OPINIÃO - Inside - A sujeira do mundo literário

Inside é um livro sobre relatos de uma escritora que desistiu.
Depois de descobrir que o mercado literário não passava de uma mentira, Coraline Dalto Dutra decidiu contar de forma detalhada todas as coisas ruins que lhe aconteceram e sobre toda a sujeira por trás dos bastidores das publicações. Em poucas páginas ela nos fala sobre como funciona o mercado literário e nos conta sobre todas as editoras desonestas que passaram por sua vida e todas as pessoas que a enganaram e que continuam enganando outros autores por aí.
Se você faz parte desse maravilhoso universo das letras, cuidado, seu nome pode estar escondido em algum capítulo.


IMPORTANTE - ESSE TEXTO NÃO É UMA RESENHA OU ANÁLISE. É UMA OPINIÃO COM EXPERIENCIA PROPRIA BASEADA EM CIMA DO EXCELENTE LIVRO ACIMA.

Ahhhh céus, quando vi esse livro num grupo literário, soube na hora que precisava lê-lo. Talvez porque eu esteja no ramo, talvez porque eu tenha passado por quase tudo que a protagonista passou, enfim, eu sabia que era necessário, e então corri atrás dele.
Se você ainda não leu, baixe aqui.

A protagonista da obra narra suas desventuras no mundo literário e, como já diz a sinopse, ela desistiu dele. Acho que a diferença entre nós (eu que não desisti), já se explica no primeiro capítulo:

"O que minha geração não entende, e que só agora consegui entender, é: nós não precisamos gostar do nosso trabalho, só precisamos fazê-lo"
 
De fato, acho que quem se mantêm por amor está fadado a desistência. Eu me mantenho porque é meu trabalho. E não, não é todos os dias que quero fazê-lo. Mas, me forço a cumprir as metas diárias, não importando o custo.
Eu só preciso fazer, e faço.
Coraline, a protagonista, já pensava mais com os sentimentos, ela mesmo admite que via a profissão com romantismo. 
No meu caso, não existe romantismo nenhum nos dedos com LER, sangrando nas juntas, no desgaste psicólogico, no estresse da revisão, nas porras das críticas sem fundamento, na vontade de escrever algo mas saber que aquilo é sem futuro, e entender que preciso escrever o inverso porque vende e eu pago meus boletos assim.

Ah, Josi, que frieza...

Pois é gente. É por isso que tô nessa há vinte anos. E eu já passei os meus. Até 2015 eu era a pessoa indicada pela agência nacional da AIDS, mas que não fazia R$ 20,00 reais por mês em vendas de livros. Nessa profissão, ou você é frio, ou ela te engole.
Fora o coleguismo... meu Deus...
Tem tanta gente preparado pra te dar a facada nas costas que seus olhos passam a andar pelo lado traseiro. A autora, aliás, faz uma analise sobre os tipos de autores nacionais e eu gargalhei com ela, porque definiu tudo exatamente.
Eu poderia ficar horas aqui narrando tudo que aconteceu, mas vou me centrar na ideia do livro de Camila: Literatura é pra quem tem estômago. O mercado literário é um show de falsidade. O ego domina o meio.

Outro ponto de destaque é as editoras safadas. Ah, cheguei a rir das armadilhas que a autora caiu. Não vou negar. Já passei os meus perrengues também, especialmente em eventos. Certa vez paguei 900,00 reais para estar num stand, levei os livros numa mala, e a editora não tinha nenhum trabalho além de me oferecer a mesa. No final de tudo, demorei um tempo pra receber o valor das vendas e para piorar, soube que a editora (quando soube q eu iria com outra no evento do ano seguinte) disse que eu desprezei quem deu uma chance no ano anterior (chance? Eu paguei quase mil paus por meia hora numa mesa!)

Outra coisa que, fazendo um parêntese comigo, eu senti muita diferença entre mim e a autora é que, talvez, pela falta de uma família estruturada, um pai durante minha vida, eu realmente me tornei casca grossa, e faço das perseguições um modelo de divulgação.
A autora em questão claramente se sentiu abalada com isso. Ela até chorou quando recebeu a primeira cantada literária de um colega. Já recebi até fotos de pinto de colegas kkkk Mas, ponho banca, faço cara feia, chego junto, é meio dificil um homem abusador se atrever pra cima de alguém como eu, acostumada aos berros e gritos.

Enfim, li o livro em menos de duas horas. Foi viciante. Comecei a ler as 11 horas da manhã e as 13 horas do mesmo dia (15/01) já estava escrevendo essa opinião.  Leitura obrigatória para autores em início de carreira. Leitura divertida para quem já passou por tudo isso.

Recomendo.




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